POR SALVADOR NOGUEIRA
01/12/14 05:56
Imagine um filme que em pouco menos de quatro minutos revela o futuro da exploração humana do nosso Sistema Solar. Bem, agora não imagine mais. Assista-o, com direito a narração do inigualável Carl Sagan.
“Wanderers” (“Andarilhos”, em tradução livre) é obra do artista visual sueco Erik Wernquist e traduz, em poucas cenas, toda a beleza dos mundos que orbitam o nosso Sol. Não há ficção nos cenários explorados — apenas a presença de humanos neles é um vislumbre do nosso distante porvir, caso a civilização consiga sobreviver à atual adolescência tecnológica e se desenvolva para colonizar o espaço.
O texto é emprestado do livro de Sagan, “Pálido Ponto Azul”, narrado por ele mesmo, e a combinação é sensacional. Abaixo, confira uma tradução livre do conteúdo do filme.
TODOS OS LOCAIS MOSTRADOS NESTE CURTA-METRAGEM SÃO RECRIAÇÕES DE LOCAIS VERDADEIROS EM NOSSO SISTEMA SOLAR
Apesar de todas as suas vantagens materiais, a vida sedentária nos deixou inquietos, insatisfeitos. Mesmo após 400 gerações em vilas e cidades, não nos esquecemos. A estrada aberta ainda nos chama, como uma canção da infância quase esquecida.
ANDARILHOS
Investimos lugares distantes com um certo romance. O apelo, eu suspeito, foi meticulosamente moldado pela seleção natural, como um elemento essencial à nossa sobrevivência.
Verões longos, invernos amenos, colheitas ricas, caça abundante, nada disso dura para sempre.
Sua própria vida, ou de seu bando, ou até mesmo de sua espécie, pode ser produto de uns poucos inquietos, atraídos, por um desejo que eles dificilmente podem articular ou compreender, para terras desconhecidas e novos mundos.
Herman Melville, em “Moby Dick”, falou por andarilhos de todas as épocas e meridianos. Ele disse: “Eu sou atormentando por uma coceira interminável por coisas remotas. Eu adoro navegar por mares proibidos.”
Talvez seja um pouco cedo. Talvez o tempo não tenha ainda chegado. Mas esses são os mundos que prometem oportunidades nunca ditas, acenando. Silenciosamente, eles orbitam o Sol, esperando.
***
Em poucos minutos, vemos astronautas deixando a Terra e explorando Marte, o cinturão de asteroides, Júpiter, Saturno e Urano. No planeta vermelho, a civilização estabelece uma colônia, acessível por meio de um elevador espacial. Vemos intrépidos humanos observando um tocante pôr do Sol marciano.
Um pôr do Sol em Marte, baseado em imagens reais obtidas pelo jipe Spirit!
No cinturão, asteroides são escavados e transformados em estruturas ocas capazes de abrigar humanos em seu interior, protegidos ali da radiação cósmica. Em Júpiter, exploradores admiram a Grande Mancha Vermelha e caminham por sobre a superfície gelada da lua Europa.
Caminhando pela superfície de Europa, uma das luas de Júpiter.
Em Saturno, a humanidade visita as plumas da pequena Encélado, estabelece colônias em Iápeto e literalmente voa sobre os mares de metano de Titã. Enormes dirigíveis flutuam por sobre as nuvens saturninas, admirando a beleza dos anéis, também visitados de perto por astronautas. E, em Urano, outro esporte radical: salto dos desfiladeiros de Miranda, os maiores do Sistema Solar.
Saltando do abismo em Miranda, lua de Urano! Radical!
Incrível demais para ser verdade? Todos esses lugares existem e estão ao nosso alcance. Nada do que esse filme mostra é impossível. É apenas extraordinariamente caro e exigirá grandes investimentos de engenharia no futuro. Mas, se a humanidade durar por mais algumas centenas de anos, quem duvidará de que este pode ser o nosso futuro?
Como diz o próprio Sagan, ainda não está claro quando isso vai acontecer. Talvez o século 21 ainda não seja o momento. Mas podemos já de hoje vislumbrar com clareza — graças a nossos próprios esforços pioneiros com sondas automáticas — as cenas que moldarão os sonhos de nossos descendentes, no futuro distante.
FONTE: http://mensageirosideral.blogfolha.uol.com.br/
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