LIVROS: O Fim da Infância, de Arthur C. Clarke


Para resenhar uma obra como O Fim da Infância, creio eu, tenho de começar pelo título. Por mais que ele seja explicado na última parte do livro, ele possui também um sentido metafórico: pois a humanidade vive em completa ignorância, infantilidade, com relação ao universo ao seu redor. O ignoramos, mas não somos ignorados. E quando o momento de deixar de ser criança chegar, o momento onde evoluiremos para uma espécie mais avançada, aberta para novos horizontes e descobertas, estaremos preparados? Pois a qualquer momento, a infância em que a humanidade vive chegará ao fim.
O Fim da Infância começa com a chegada de alienígenas durante a Guerra Fria. Tal como as últimas linhas do primeiro capítulo sugerem, aquele era um momento de mudanças. Porém, os nossos “visitantes” não estouram uma guerra contra a humanidade como em A Guerra dos Mundos, de H. G. Wells, e outros livros do gênero; os Senhores Supremos, como são eles chamados, se dispõem a ajudar a humanidade, mostrando o caminho para a evolução e a solução de seus problemas. Contanto, há uma imposição: nenhum humano poderá vê-los. É com essa premissa que a história de O Fim da Infância se inicia.
O livro é divido em três partes. A primeira “A Terra e os Senhores Supremos” é simplesmente sublime, tanto em construção quanto em narrativa. Prendeu-me da primeira a última linha. Ela é contada a partir do ponto de vista de Rikki Stormgren, Secretário-geral das Nações Unidas, único ser humanos que pode entrar em contato (apenas verbal, não visual) com os Senhores Supremos. Seus capítulos são voltados para a interação entre a humanidade e a raça alienígena que paira sobre suas cidades, o que permite a entrada de muitas passagens memoráveis. Um fato curioso é que a primeira parte é nada mais nada menos do que uma versão estendida do conto que deu origem ao livro, Anjo da Guarda, publicado em abril de 1950. Três anos depois, Arthur C. Clarke publicou O Fim da Infância, o que por muitos é considerado um dos livros mais importantes de ficção científica.
Voltando a análise por partes, “A Era de Ouro”, segunda parte de O Fim da Infância, traz a grande revelação do livro: a verdadeira natureza dos Senhores Supremos, os alienígenas que pairam sobre a Terra desde a Guerra Fria. Não há como não ficar chocado. Reli duas vezes o capítulo, só para chegar à conclusão que Arthur C. Clarke realmente é muito inteligente – e ousado – ao apresentar “a forma” de seus alienígenas. E enfim a última parte, intitulada “A Última Geração”, que apresenta o desfecho do livro. Surpreendeu-me, sem dúvidas. Porém, confesso que o final ficou abaixo das minhas expectativas. Creio que as explicações dadas foram vagas e as situações muito irreais, mesmo para uma clássica ficção científica.
O livro, em questões estruturais, é muito bem equilibrado. Sua narrativa flui ao longo dos capítulos e, mesmo nas situações mais irreais, consegue manter o foco. Sem dúvida, é um livro que eu recomendo veemente, pois por trás de sua história fictícia, há uma mensagem contra a ignorância intelectual e espiritual com a qual convivemos.
Trecho do Livro:
– Em cinquenta anos – disse Wainwright com amargor – o estrago já estará feito. Os que poderiam lembrar da nossa independência estarão mortos. A humanidade terá esquecido seu legado.

‘Palavras. Palavras vazias’, pensou Stormgren. As palavras pelas quais os homens outrora lutaram e morreram, e pelas quais nunca mais morreriam e lutariam. E o mundo ficaria melhor assim.
Enquanto assistia à saída de Wainwright, Stormgren tentava imaginar quais novos problemas a Liga da Liberdade ainda causaria nos próximos anos. ‘Isso, porém’, pensou com alívio, ‘seria um problema para seu sucessor’.
Havia coisas que só o tempo poderia curar. Homens maus podiam ser destruídos, mas nada podia ser feito com homens bons, mas iludidos. ” (página 76)

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